quarta-feira, abril 23, 2014

Sinopse e Argumento

Doc Comparato, no seu livro “Da Criação ao Guião”, não distingue sinopse de argumento. Para ele são uma e a mesma coisa. Refere que o “argumento, ou a sinopse, é a story line desenvolvida sob a forma de texto” e prossegue com a etimologia das palavras argumentum (latim) e sinopsis (grego), concluindo que ambos os termos tendem a confluir. Comparato considera a sinopse o resumo de uma história e nomeia dois tipos de sinopse, a pequena sinopse e a grande sinopse. A primeira vai de duas a cinco folhas, a segunda, que pode incluir diálogo, ocupa dez fólios por cada hora de audiovisual, ou seja um total de quarenta páginas por cada hora.
Luís Nogueira (Manuais do Cinema do LabCom) afirma que a sinopse pode ser mais ou menos extensa e é indispensável na criação do guião cinematográfico. O autor propõe uma distinção entre sinopse narrativa e sinopse criativa:

“A sinopse narrativa ocupa-se da história. Como a etimologia do termo indica (do grego syn: em conjunto + ópsis: visão), a sinopse é um texto ou um relato que nos permite ter uma visão de conjunto da história, ou seja, é um resumo, uma síntese, da qual constam (e apenas) os elementos fundamentais daquela. Usa-se também com frequência e sinonimamente a expressão anglófona story line, o que não deixa de ser correcto (…)
Mas podemos igualmente falar de uma sinopse criativa, a qual englobaria juntamente com a história todo um conjunto de informações que a envolvem e a transcendem: o género do filme, o currículo dos autores, o palmarés dos actores ou as opiniões críticas acerca da obra, por exemplo. Assim, podemos dizer que se a sinopse narrativa efectua um resumo da história, a sinopse criativa faz um resumo da obra.”

Terrence Marner, no seu livro “A Realização Cinematográfica”, refere-se ao “argumento cinematográfico” como um “desenvolvimento da sinopse” ou, ainda um “guião literário”. Inclui também o uso de diálogo:

“Trata-se de uma exposição mais vasta do tema, semelhante à forma de um conto. Quando for necessário o diálogo para que progrida o entrecho ou para dar a conhecer facetas de uma determinada personagem, o texto é mencionado entre aspas, como na literatura, e não se separa, como acontece na peça de teatro ou no guião cinematográfico.”

Convém referir que Marner distingue entre “sinopse” e “desenvolvimento da sinopse”. O autor define que a sinopse tem cinco páginas e que o seu desenvolvimento tem cinquenta páginas. O número de páginas que o autor indica não é uma regra, mas sim, segundo o próprio, uma orientação.
Parent-Altier diz-nos que a escrita da sinopse é uma das técnicas incontornáveis da gestão da estrutura narrativa, permite organizar e alterar a cronologia da obra: “A maioria dos argumentistas anglo-saxónicos tem o hábito de começar pela sinopse, gerando assim a estrutura da narrativa antes de entrar nos pormenores de uma cena ou de uma sequência.” O autor explica que existem várias formas de sinopse e enumera-as:

“(...) 1. a sinopse curta, que tem meia página; 2. a sinopse longa, (...) que tem uma, duas ou três páginas; 3. o tratamento, uma sinopse pormenorizada que estabelece o histórico do enredo e da acção, em prosa, no tempo presente, sem diálogo, que pode ter até 50 páginas (...); 4. o outline: (...) é um resumo do argumento cena por cena, sem diálogo; 5. o step-outline, (...) é o «argumento contado passo a passo numa sucessão de cenas numeradas por ordem, tendo para cada cena uma frase que resume a acção que decorre».”

O autor, depois de afirmar que as duas primeiras formas de sinopse enumeradas são indispensáveis, determina que a sinopse curta “resume o enredo em poucas palavras, descreve a história e, implicitamente, o tema”. Refere ainda que o pitch é “a versão oral da sinopse utilizada pelos argumentistas do outro lado do Atlântico aquando da apresentação inicial do seu projeto a um produtor.” Michael Hauge, na sua palestra “Michael Hauge on pitching”, para a Screen Australia, disponível no sítio oficial (http://screenaustralia.gov.au), defende que a melhor forma de vender uma ideia para um filme é através do pitching. O autor estabelece que o pitch deve integrar os seguintes passos: 1º Protagonista; 2º Quotidiano; 3º Oportunidade; 4. Nova situação; 5. Objetivo; 6. Conflito.
A segunda e indispensável forma de sinopse que Parent-Altier refere é a sinopse longa. Em relação a esta o autor diz-nos o seguinte:

“A sinopse mais organizada organiza-se em torno de dispositivos narrativos estruturais, como o acto. Os acontecimentos-chave do enredo, o incidente desencadeador, as crises, o clímax e a resolução estão nele inscritos, bem como as reviravoltas de situações.”

É importante referir que Parent-Altier não faz distinção entre argumento e guião, portanto, o argumento de que fala, e a formatação de texto que exemplifica no seu livro, corresponde à do guião para outros autores.
Na lista, Parent-Altier, não menciona outros termos como logline e storyline que João Nunes explica e desenvolve no seu blogue. Em relação ao primeiro diz-nos que: “A logline é ape­nas a des­cri­ção des­tes três ele­men­tos – pro­ta­go­nista, objec­tivo e obs­tá­culo – num único pará­grafo, na forma mais sin­té­tica pos­sí­vel.” Em relação ao Segundo termo, João Nunes avisa-nos que se utiliza com frequência “a expres­são story­line como sinó­nimo de enredo (plot)” pelo que o seu uso pode ser confuso. A storyline é também “o resumo mais sin­té­tico da estó­ria completa.
João Nunes explica-nos também no seu blogue que o termo outline e mais especificamente o step-outline é chamado, em Portugal, de “escaleta”. Palavra italiana que significa escada, introduzida no nosso país pela mão da argumentista Suso Cecchi D'Amico.

Doc Comparato, ao contrário de Parent-Altier, estabelece uma distinção entre argumento e guião, afirmando: “Quanto a nós, o argumentista é o “fazedor de histórias”, enquanto que o guionista é “aquele que escreve o guião”, embora normalmente as duas funções sejam desempenhadas por uma mesma pessoa.”
Rui Zink (1999. Pág. 36) no seu livro “Literatura Gráfica? Banda Desenhada Portuguesa Contemporânea” contraria Comparato e diz-nos que “Argumentista ou guionista são expressões equivalentes, transpostas do cinema para a BD por analogia.” Zink afirma ainda que o argumentista (ou guionista), muitas vezes, não é o autor da narrativa e o seu papel é o do intermediário cujo trabalho técnico não artístico. Ele contrapõe argumentista/ guionista a escritor e atribui ao último o papel de autor criativo, opondo-o ao de simples técnico capacitado para a escrita cinematográfica.

Não há consenso em relação a este tema, diferentes autores possuem perspetivas distintas e por vezes contraditórias entre si.

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