Doc Comparato, no seu livro
“Da Criação ao Guião”, não distingue sinopse de argumento. Para ele são uma e a
mesma coisa. Refere que o “argumento, ou a sinopse, é a story line desenvolvida sob a forma de texto” e prossegue com a etimologia das palavras argumentum (latim) e sinopsis
(grego), concluindo que ambos os termos tendem a confluir. Comparato
considera a sinopse o resumo de uma história e nomeia dois tipos de sinopse, a
pequena sinopse e a grande sinopse. A primeira vai de duas a cinco folhas, a
segunda, que pode incluir diálogo, ocupa dez fólios por cada hora de
audiovisual, ou seja um total de quarenta páginas por cada hora.
Luís Nogueira (Manuais do Cinema do LabCom) afirma que a
sinopse pode ser mais ou menos extensa e é indispensável na criação do guião
cinematográfico. O autor propõe uma distinção entre sinopse narrativa e sinopse
criativa:
“A
sinopse narrativa ocupa-se da história. Como a etimologia do termo indica (do
grego syn: em conjunto + ópsis: visão), a sinopse é um texto ou um relato que
nos permite ter uma visão de conjunto da história, ou seja, é um resumo, uma
síntese, da qual constam (e apenas) os elementos fundamentais daquela. Usa-se
também com frequência e sinonimamente a expressão anglófona story line, o que
não deixa de ser correcto (…)
Mas
podemos igualmente falar de uma sinopse criativa, a qual englobaria juntamente
com a história todo um conjunto de informações que a envolvem e a transcendem:
o género do filme, o currículo dos autores, o palmarés dos actores ou as
opiniões críticas acerca da obra, por exemplo. Assim, podemos dizer que se a
sinopse narrativa efectua um resumo da história, a sinopse criativa faz um
resumo da obra.”
Terrence Marner, no seu livro “A Realização
Cinematográfica”, refere-se ao “argumento cinematográfico” como um
“desenvolvimento da sinopse” ou, ainda um “guião literário”. Inclui também o
uso de diálogo:
“Trata-se
de uma exposição mais vasta do tema, semelhante à forma de um conto. Quando for
necessário o diálogo para que progrida o entrecho ou para dar a conhecer
facetas de uma determinada personagem, o texto é mencionado entre aspas, como
na literatura, e não se separa, como acontece na peça de teatro ou no guião
cinematográfico.”
Convém referir que Marner distingue entre
“sinopse” e “desenvolvimento da sinopse”. O autor define que a sinopse tem
cinco páginas e que o seu desenvolvimento tem cinquenta páginas. O número de
páginas que o autor indica não é uma regra, mas sim, segundo o próprio, uma
orientação.
Parent-Altier diz-nos que a
escrita da sinopse é uma das técnicas incontornáveis da gestão da estrutura
narrativa, permite organizar e alterar a cronologia da obra: “A maioria dos
argumentistas anglo-saxónicos tem o hábito de começar pela sinopse, gerando
assim a estrutura da narrativa antes de entrar nos pormenores de uma cena ou de
uma sequência.” O autor explica que existem várias formas de sinopse e
enumera-as:
“(...)
1. a sinopse curta, que tem meia página; 2. a sinopse longa, (...) que tem uma,
duas ou três páginas; 3. o tratamento, uma sinopse pormenorizada que estabelece
o histórico do enredo e da acção, em prosa, no tempo presente, sem diálogo, que
pode ter até 50 páginas (...); 4. o outline: (...) é um resumo do argumento
cena por cena, sem diálogo; 5. o step-outline, (...) é o «argumento contado
passo a passo numa sucessão de cenas numeradas por ordem, tendo para cada cena
uma frase que resume a acção que decorre».”
O autor, depois de afirmar que as duas
primeiras formas de sinopse enumeradas são indispensáveis, determina que a
sinopse curta “resume o enredo em poucas palavras, descreve a história e,
implicitamente, o tema”. Refere ainda que o pitch
é “a versão oral da sinopse utilizada pelos argumentistas do outro lado do
Atlântico aquando da apresentação inicial do seu projeto a um produtor.”
Michael Hauge, na sua palestra “Michael
Hauge on pitching”, para a Screen
Australia, disponível no sítio oficial (http://screenaustralia.gov.au),
defende que a melhor forma de vender uma ideia para um filme é através do pitching. O autor estabelece que o pitch deve integrar os seguintes passos:
1º Protagonista; 2º Quotidiano; 3º Oportunidade; 4. Nova situação; 5.
Objetivo; 6. Conflito.
A segunda e indispensável forma de sinopse
que Parent-Altier refere é a sinopse longa. Em relação a esta
o autor diz-nos o seguinte:
“A
sinopse mais organizada organiza-se em torno de dispositivos narrativos
estruturais, como o acto. Os acontecimentos-chave do enredo, o incidente
desencadeador, as crises, o clímax e a resolução estão nele inscritos, bem como
as reviravoltas de situações.”
É importante referir que Parent-Altier não
faz distinção entre argumento e guião, portanto, o argumento de que fala, e a
formatação de texto que exemplifica no seu livro, corresponde à do guião para
outros autores.
Na lista, Parent-Altier, não menciona outros
termos como logline e storyline que João Nunes explica e
desenvolve no seu blogue. Em relação ao primeiro diz-nos que: “A logline é apenas
a descrição destes três elementos – protagonista, objectivo
e obstáculo – num único parágrafo, na forma mais sintética possível.”
Em relação ao Segundo termo, João Nunes avisa-nos que se utiliza com frequência “a expressão storyline como sinónimo de enredo (plot)”
pelo que o seu uso pode ser confuso. A storyline é também “o resumo mais
sintético da estória completa.”
João Nunes explica-nos também no seu blogue
que o termo outline e mais especificamente o step-outline é chamado, em
Portugal, de “escaleta”. Palavra italiana que significa escada, introduzida no
nosso país pela mão da argumentista Suso Cecchi D'Amico.
Doc Comparato, ao contrário de
Parent-Altier, estabelece uma distinção entre argumento e guião, afirmando:
“Quanto a nós, o argumentista é o “fazedor de histórias”, enquanto que o
guionista é “aquele que escreve o guião”, embora normalmente as duas funções
sejam desempenhadas por uma mesma pessoa.”
Rui Zink (1999. Pág. 36) no seu livro
“Literatura Gráfica? Banda Desenhada Portuguesa Contemporânea” contraria
Comparato e diz-nos que “Argumentista ou guionista são expressões equivalentes,
transpostas do cinema para a BD por analogia.” Zink afirma ainda que o
argumentista (ou guionista), muitas vezes, não é o autor da narrativa e o seu
papel é o do intermediário cujo trabalho técnico não artístico. Ele contrapõe
argumentista/ guionista a escritor e atribui ao último o papel de autor
criativo, opondo-o ao de simples técnico capacitado para a escrita
cinematográfica.
Não há consenso em
relação a este tema, diferentes autores possuem perspetivas distintas e
por vezes contraditórias entre si.